A menina de cabelos longos e olhar expressivo olhou pra um lado,olhou pro outro,e andando a passos rápidos atravessou a agitada avenida.Ia friccionando a mão na outra, assoprando levemente o ar,que fluía espessamente da sua boca.Tinha trajes de inverno;o cabelo castanho solto ao vento,até um pouco desalinhado,e as faces um tanto avermelhadas em decorrência do rigor do frio.
Parou em frente a um carro de cor prata que ali jazia estacionado e cumprimentou o homem que a esperava encostado no veículo. O homem tinha uma expressão séria;era alto,corpulento,e aparentava ter lá seus quarenta,quarenta e poucos anos.
-Desculpe a demora, papai, é que eu estava acertando os detalhes de um evento que teremos aqui na igreja na próxima semana- a garota justificou-se logo depois do cumprimento.
-Tudo bem- o pai respondeu sem aparentar se ficara nervoso ou não. Deu a volta ao outro lado do carro e entrou no veículo.A garota esperou que o pai abrisse a porta e também entrou.
A menina fechou a porta e observou pela janela a fachada da igreja ainda “fervendo” de gente. Acenou pra alguns de seus amigos que ainda se encontravam reunidos ali, e logo depois sentiu a arrancada brusca com a acelerada do carro.Conhecendo seu pai como conhecia, sabia que esse tipo de ímpeto era normal dele.
O que não era normal daquele homem era o estranho silêncio que ele manifestava aquele momento. O Sr Roberto,homem extremamente falante e expressivo,exibia um estranho modo sigiloso.
A filha não quis perguntar nada a princípio.Seria melhor esperar para ver o que seu pai tinha a dizer, pois sim, ele ia dizer. Roberto não era de segurar as palavras por muito tempo. Sempre acabava falando.
O homem levou a mão à cabeça. Balançou impacientemente a perna, olhou pra um lado,olhou pro outro,voltou a olhar pra frente.Protagonizou uns e outros trejeitos,mas enfim falou:
-Sua mãe ligou.
Silêncio.
A garota pareceu não ter escutado o que o pai dissera. Permaneceu imóvel,como se não houvesse acontecido nada.O pai a fitou como quem intenta descobrir algo e repetiu:
-Sua mãe ligou.
Silêncio novamente.
Roberto se calou por instantes, parecia não querer insistir,mas logo instou novamente:
-Ouviu o que eu disse?
-Ouvi-a menina respondeu sem olhar para o pai.
-Não vai me perguntar o que ela queria?
-O que ela queria?-a menina perguntou como que por obrigação.
-Ela quer que você compareça ao casamento de sua prima Evelyn.
-Ah- ela murmurou inexpressivamente.
Roberto lançou um olhar preocupado para a filha e não falou mais nada.
Tão logo chegaram em casa, a garota saiu rapidamente do veículo e entrou.
Na sala se encontrava Alice, sua madrasta, deitada em um dos sofás, enrolada em um espesso cobertor, que por sinal parecia convidativo. Era uma mulher bonita. Tinha os cabelos de comprimento médio, castanhos claros, olhos verdes, e era jovem ainda. Sua beleza parecia haver ganhado um brilho novo em função da gravidez de seis meses.
-Tá muito frio aí fora,Carol?
-Muito!-Carolina respondeu se “esparramando” no sofá-O frio tá de arrepiar.
-E a previsão é de mais frio na próxima semana-Roberto comentou entrando no ambiente.
-Mais frio que isso?Ai não...-Carol reclamou.
-Eu gosto-Alice comentou-Me faz lembrar do clima frio do sul.
Carolina deu um sorrisinho inexpressivo e imaginou como era que uma pessoa poderia gostar de um clima tão “falto de viveza”.
-Bem, vou dormir-a menina disse levantando de súbito-Boa noite pra vocês.
-Boa noite-Alice e Roberto responderam ao mesmo tempo.
-Não esqueça de retornar a ligação da sua mãe-Roberto acrescentou. Carolina balançou a cabeça afirmativamente e desapareceu escada acima.Entrou em seu quarto,onde se refugiava sempre depois de um dia cheio e jogou-se na cama.Deitou de bruços e ficou por alguns instantes assim,olhando o vazio.Logo após levantou-se,pegou a Bíblia e sentou-se,iniciando a folhear o Livro que sempre fazia questão de ler todas as horas que pudesse.Folheou-a,e parou no livro de Provérbios,capítulo 17,onde leu vários versículos,atentando mais para a parte b do 6,que dizia: “A coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais”.
A menina parou por instante e ficou a meditar na mensagem daquela frase. “A glória dos filhos são seus pais”- ela repetiu em voz alta. Levantou-se e caminhou ao guarda-roupa,onde abriu a gaveta e pegou um tipo de um livro por entre as peças de roupas.Era seu diário.Um velho diário que ela possuía já havia mais de dois anos,e que ainda possuía algumas folhas em branco.
Sentou-se na escrivaninha e começou a escrever.
Querido Diário
Meu dia hoje foi legal.Fui à igreja,louvei,me diverti com meus amigos,mas ao fim dele parece que toda a alegria desapareceu quando ouvi a notícia de um telefonema que por não estar em casa não pude atender.E foi melhor assim.
Não sei por que fico tão alterada quando ouço falar daquela mulher.Sabe de quem estou falando,não sabe?Aquela mulher é a minha mãe.Aquela que merece todo meu respeito,meu carinho,meu amor.Mas é tão difícil ter uma mãe como a que eu tenho.
Acabei de ler um versículo que diz que “a glória dos filhos são seus pais.” É uma mensagem bonita, mas no momento acho que não se aplica à minha vida.
Faz dois anos que me separei da minha mãe.Vim morar com meu pai e com Alice e desde então não tenho tido tanto contato com ela.Parece que me esqueceu.Ligou hoje só pra me avisar do casamento da Evelyn, mas quem disse que ela liga pra saber se eu to bem,se eu to com saudades,se eu preciso conversar com ela...
Eu não vou mentir. Eu penso nela.Penso muito.E oro também.Quero que Deus a salve,que a liberte de toda mentira e ilusão em que vive.Eu a amo e quero vê-la salva.Não sei se quero voltar a ter a relação que tínhamos anteriormente,mas quero que ela mude de vida.É o máximo que posso desejar a ela no momento.
Bem,querido Diário,eu preciso ir dormir.Não quero enfadar mais nem a você e nem a mim mesma com essas reclamações.Além disso,estou exausta.Desde que comecei a fazer faculdade você sabe que ando cansada e sem tempo.É o preço que tenho que pagar.
Até mais querido Diário
Boa noite
Carolina
Tão logo terminou de escrever,a garota deu um suspiro,limpou algumas lágrimas finas e quentes que timidamente haviam escorrido de seus olhos e guardou o diário.Ajoelhou-se na beira da cama e dirigiu uma oração a Deus.Era uma oração diferenciada,muda.Era uma oração em que apenas as lágrimas falavam e os suspiros expressavam o que se passava no seu coração. Era uma prece que vinha da alma.
Parou em frente a um carro de cor prata que ali jazia estacionado e cumprimentou o homem que a esperava encostado no veículo. O homem tinha uma expressão séria;era alto,corpulento,e aparentava ter lá seus quarenta,quarenta e poucos anos.
-Desculpe a demora, papai, é que eu estava acertando os detalhes de um evento que teremos aqui na igreja na próxima semana- a garota justificou-se logo depois do cumprimento.
-Tudo bem- o pai respondeu sem aparentar se ficara nervoso ou não. Deu a volta ao outro lado do carro e entrou no veículo.A garota esperou que o pai abrisse a porta e também entrou.
A menina fechou a porta e observou pela janela a fachada da igreja ainda “fervendo” de gente. Acenou pra alguns de seus amigos que ainda se encontravam reunidos ali, e logo depois sentiu a arrancada brusca com a acelerada do carro.Conhecendo seu pai como conhecia, sabia que esse tipo de ímpeto era normal dele.
O que não era normal daquele homem era o estranho silêncio que ele manifestava aquele momento. O Sr Roberto,homem extremamente falante e expressivo,exibia um estranho modo sigiloso.
A filha não quis perguntar nada a princípio.Seria melhor esperar para ver o que seu pai tinha a dizer, pois sim, ele ia dizer. Roberto não era de segurar as palavras por muito tempo. Sempre acabava falando.
O homem levou a mão à cabeça. Balançou impacientemente a perna, olhou pra um lado,olhou pro outro,voltou a olhar pra frente.Protagonizou uns e outros trejeitos,mas enfim falou:
-Sua mãe ligou.
Silêncio.
A garota pareceu não ter escutado o que o pai dissera. Permaneceu imóvel,como se não houvesse acontecido nada.O pai a fitou como quem intenta descobrir algo e repetiu:
-Sua mãe ligou.
Silêncio novamente.
Roberto se calou por instantes, parecia não querer insistir,mas logo instou novamente:
-Ouviu o que eu disse?
-Ouvi-a menina respondeu sem olhar para o pai.
-Não vai me perguntar o que ela queria?
-O que ela queria?-a menina perguntou como que por obrigação.
-Ela quer que você compareça ao casamento de sua prima Evelyn.
-Ah- ela murmurou inexpressivamente.
Roberto lançou um olhar preocupado para a filha e não falou mais nada.
Tão logo chegaram em casa, a garota saiu rapidamente do veículo e entrou.
Na sala se encontrava Alice, sua madrasta, deitada em um dos sofás, enrolada em um espesso cobertor, que por sinal parecia convidativo. Era uma mulher bonita. Tinha os cabelos de comprimento médio, castanhos claros, olhos verdes, e era jovem ainda. Sua beleza parecia haver ganhado um brilho novo em função da gravidez de seis meses.
-Tá muito frio aí fora,Carol?
-Muito!-Carolina respondeu se “esparramando” no sofá-O frio tá de arrepiar.
-E a previsão é de mais frio na próxima semana-Roberto comentou entrando no ambiente.
-Mais frio que isso?Ai não...-Carol reclamou.
-Eu gosto-Alice comentou-Me faz lembrar do clima frio do sul.
Carolina deu um sorrisinho inexpressivo e imaginou como era que uma pessoa poderia gostar de um clima tão “falto de viveza”.
-Bem, vou dormir-a menina disse levantando de súbito-Boa noite pra vocês.
-Boa noite-Alice e Roberto responderam ao mesmo tempo.
-Não esqueça de retornar a ligação da sua mãe-Roberto acrescentou. Carolina balançou a cabeça afirmativamente e desapareceu escada acima.Entrou em seu quarto,onde se refugiava sempre depois de um dia cheio e jogou-se na cama.Deitou de bruços e ficou por alguns instantes assim,olhando o vazio.Logo após levantou-se,pegou a Bíblia e sentou-se,iniciando a folhear o Livro que sempre fazia questão de ler todas as horas que pudesse.Folheou-a,e parou no livro de Provérbios,capítulo 17,onde leu vários versículos,atentando mais para a parte b do 6,que dizia: “A coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais”.
A menina parou por instante e ficou a meditar na mensagem daquela frase. “A glória dos filhos são seus pais”- ela repetiu em voz alta. Levantou-se e caminhou ao guarda-roupa,onde abriu a gaveta e pegou um tipo de um livro por entre as peças de roupas.Era seu diário.Um velho diário que ela possuía já havia mais de dois anos,e que ainda possuía algumas folhas em branco.
Sentou-se na escrivaninha e começou a escrever.
Querido Diário
Meu dia hoje foi legal.Fui à igreja,louvei,me diverti com meus amigos,mas ao fim dele parece que toda a alegria desapareceu quando ouvi a notícia de um telefonema que por não estar em casa não pude atender.E foi melhor assim.
Não sei por que fico tão alterada quando ouço falar daquela mulher.Sabe de quem estou falando,não sabe?Aquela mulher é a minha mãe.Aquela que merece todo meu respeito,meu carinho,meu amor.Mas é tão difícil ter uma mãe como a que eu tenho.
Acabei de ler um versículo que diz que “a glória dos filhos são seus pais.” É uma mensagem bonita, mas no momento acho que não se aplica à minha vida.
Faz dois anos que me separei da minha mãe.Vim morar com meu pai e com Alice e desde então não tenho tido tanto contato com ela.Parece que me esqueceu.Ligou hoje só pra me avisar do casamento da Evelyn, mas quem disse que ela liga pra saber se eu to bem,se eu to com saudades,se eu preciso conversar com ela...
Eu não vou mentir. Eu penso nela.Penso muito.E oro também.Quero que Deus a salve,que a liberte de toda mentira e ilusão em que vive.Eu a amo e quero vê-la salva.Não sei se quero voltar a ter a relação que tínhamos anteriormente,mas quero que ela mude de vida.É o máximo que posso desejar a ela no momento.
Bem,querido Diário,eu preciso ir dormir.Não quero enfadar mais nem a você e nem a mim mesma com essas reclamações.Além disso,estou exausta.Desde que comecei a fazer faculdade você sabe que ando cansada e sem tempo.É o preço que tenho que pagar.
Até mais querido Diário
Boa noite
Carolina
Tão logo terminou de escrever,a garota deu um suspiro,limpou algumas lágrimas finas e quentes que timidamente haviam escorrido de seus olhos e guardou o diário.Ajoelhou-se na beira da cama e dirigiu uma oração a Deus.Era uma oração diferenciada,muda.Era uma oração em que apenas as lágrimas falavam e os suspiros expressavam o que se passava no seu coração. Era uma prece que vinha da alma.
Que honra, sou o primeiro a postar no blog que é também de uma das minhas mais fiéis e assíduas leitoras. Começou muito bem, está dinâmico e lembrei até das passagens de OS CASTELLI 2, em que as primas liam versículos dos diários e depois escreviam.
ResponderExcluirNossa que mudança!! Humm ficou bem parecido com o estilo de meu livro que interessante... amei a forma da escrita na 3ª pessoa, mas sinto falta da leveza de escrita do diário apenas...
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